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Professor Marciel Consani visita a UFU e aponta principais elementos da Educomunicação em entrevista

Atualizado: 5 de set. de 2018

Por: Loise Monteiro e Sara Oliveira


Professor Marciel participou de debate sobre educomunicação em sua visita à UFU. Foto: Sara Oliveira

Na última quinta feira (30), o professor da USP Marciel Consani esteve no Campus Santa Mônica, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Ao, gentilmente, ceder um pouco de seu tempo em Uberlândia, nós, do Educomunicação UFU, pudemos conversar com o professor e entender mais sobre a relação entre a comunicação e a educação.


Marciel Consani, atualmente, é professor do curso de Educomunicação do departamento de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP). Possui doutorado em Ciência da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, com Mestrado e graduação em Artes/Música pela Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) e Pós-doutorado pelo Instituto de artes da Universidade de Campinas (IA-Unicamp). É também especialista em Tecnologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica, em São Paulo (PUC-SP).


- Professor, conte-nos um pouco sobre a sua trajetória com a comunicação e educação.


Ingressei em 2004 no doutorado e vinha de duas atuações diferentes. A primeira como arte educador, pois fiz bacharelado em música, e licenciatura em educação artística. Logo, comecei a trabalhar nessa área em escolas e programas sociais. Algum tempo depois, comecei a ter uma atuação mais voltada para a tecnologia, já que tinha trabalhado muito com produção musical e produção artística.


Paralelo a isso, acabei sendo convidado para trabalhar na secretaria municipal. Estavam implantando os primeiros computadores conectados a internet na rede municipal e tinham poucos professores que sabiam lidar com os softwares educativos e com as ferramentas da internet. Então, eu era um formador de professores em relação às novas tecnologias.


Quando surgiu o primeiro projeto educomunicativo da prefeitura municipal de São Paulo, se chamava “Educom.rádio”. Eu já era professor universitário da rede privada, com produção de áudio e vídeo. Aquela abordagem era totalmente diferente do que eu conhecia, porque não era o professor que aprendia e depois dava uma aula, eram crianças e professores aprendendo ao mesmo tempo, trabalhando juntos na produção.


Quando acabou a gestão, acabei indo pra USP, onde o professor Ismar Soares, que foi meu orientador no doutorado, disse que se eu quisesse ficar por lá, teria que trabalhar. Não sabia bem onde estava entrando, era um trabalho muito intenso, tinha que participar de várias coisas que apareciam, como Educom Rádio e Educom Tv. Depois, começou uma onda de cursos a distância, trabalhamos com um programa de formação em parceria com o MEC e a Federal de Pernambuco. Tínhamos 2.000 professores a cada oferta do curso, desenvolvemos uma estrutura grande.


Assim, fui desenvolvendo uma trajetória acadêmica. Ingressei na ECA, em outro departamento, depois apareceu um concurso da prefeitura de Ciência da Comunicação e acabei virando professor do departamento em que fiz o doutorado.


Por isso, acho que a educomunicação é interessante, não é só um conceito e não é só um fazer, são as duas coisas. A palavra chave é práxis: você junta uma concepção com uma ação. As duas isoladas não existem. Acho que cheguei aonde gostaria de estar, agora o que resta é fazer conexões do trabalho que fazemos com grupos que tenham a mesma identidade, no país e no mundo. Conectar-nos com parceiros que também visam mudar a sociedade pela educação.


Quais conteúdos você já produziu na área de radiojornalismo?


Eu sou um educador, não tenho formação jornalística. Paradoxalmente, dei aula vários anos para cursos de Comunicação Social, principalmente radialismo, e, depois, Publicidade e Propaganda, Jornalismo e Relações Públicas. Como tive uma formação musical, trabalhava com preparação vocal, oratória e, principalmente, produção de áudio, parte mais técnica.


Cheguei a escrever um livro chamado “Como usar o rádio na sala de aula”, publicado em 2007, pela Editora Contexto, e esse livro era uma mescla do Educom Rádio com a companhia da prefeitura e minha atuação como professor de radialismo. Mas, principalmente, era um livro para educadores, explicando como podem trabalhar com todas as técnicas da comunicação, do jornalismo, da publicidade e do radialismo sem a necessidade de deixar de ser um educador.


Todos os trabalhos que fiz usando linguagem jornalística ou linguagens comunicacionais foram ligados ao contexto pedagógico.


- De quais formas a educomunicação pode aprimorar a relação do radiojornalista com seu ouvinte?


Primeiro, trabalhamos com uma abordagem recente e um pouco menos conhecida das teorias comunicacionais chamada Teoria das Mediações. Demoramos vários anos para dar um sentido a essa ideia do que seja a mediação e entender que o educomunicador é um mediador.


Aquele que está recebendo a comunicação também é sujeito, não é objeto. Educar é ter um feedback, assim, o educador aprende educando, são processos interativos, processos dialógicos.


Apoiamo-nos na metodologia de Mario Kaplun, nas teorias de Martin Barbeiro e muito na teoria de Paulo Freire, não abrimos mão de colocar em um mesmo nível o educando e o educador. Entendemos que só nessa simetria, nessa ausência de hierarquia de poder, é que se cria um processo democrático e a comunicação flui.


Chamamos essa relação de ecossistema educomunicativo, que é uma metáfora para um sistema em que há troca de energia e essa troca constante mantém um equilíbrio. Nunca é uma relação desequilibrada ou de servidão, em que um manda e o outro obedece, é sempre uma ideia de diálogo e, assim, todas as partes trabalham para a melhora constante e permanente do próprio fluxo comunicacional.


Entendemos que há muitos problemas na educação e que a maioria deles são problemas de comunicação. Então, tentamos resolver os problemas de comunicação para melhorar a educação.


O jornalista de profissão é um educador, também, bom ou mal, e pode deseducar, dependendo do tipo de jornalismo que ele pratica. E tem o educador que se beneficia dos modelos jornalísticos de tratar a informação para usar na aula, na escola, na ONG, em contextos em que a educação ocorre. Chamamos isso de educomunicação.



Universidade de São Paulo (USP) oferece curso de Educomunicação. Foto: Loise Monteiro


- Qual a importância de incluir disciplinas sobre educomunicação, como a que temos aqui na UFU, ou de pelo menos discutir esse tema, dentro dos cursos de comunicação?


O DNA da educomunicação deve muito ao radialismo e ao jornalismo. Historicamente, tiramos o repertório de técnicas e a fundamentação teórica dos movimentos que, no começo dos anos 70, lutavam pela democratização da comunicação, principalmente na América Latina.


Isso também dá uma identidade Latino-americana para a educomunicação e vínculo com o jornalismo combativo, um jornalismo que busca estabelecer uma relação democrática e dar aceso aos meios de produção da informação. Cremos que isso, historicamente, acumulou várias derrotas, porque, de certa forma, vemos os monopólios da comunicação e o jornalismo muito ligado a setores hegemônicos da sociedade para manter o poder, o status quo das elites dominantes.


Não conseguimos mudar isso na comunicação social, então, essa energia e combatividade são deslocadas agora para o campo da educação, justamente, estimulando a leitura crítica e estimulando os jovens a perceber que a comunicação verdadeira não é isenta. Ela é reflexo de uma relação de poder e os jovens precisam saber que existe o direito à comunicação e à voz, que eles podem ocupar um espaço.


Nos dias de hoje, pelas tecnologias, você não depende mais de uma concessão pública para ter o alcance de uma ideia. Não que a tecnologia liberte, isso é uma falácia, a tecnologia também tem sua hegemonia, seus monopólios e suas relações. É melhor você preparar criticamente o cidadão e o processo histórico vai levar à superação dessa visão alienada.


- Recentemente, o jornal Nexo (hiperlink para página do Nexo) divulgou uma nova plataforma voltada para a educação. Essas mídias independentes estão cada vez mais mostrando preocupação com essa demanda. Qual a importância dos meios de comunicação incluírem a educação em suas plataformas?


A comunicação não necessariamente deve ser uma força a ser vista no mercado, ela pode sobreviver e manter uma relevância social. O jornalismo, sempre se apoiou em códigos de ética, sempre se declarou comprometido com a verdade.


Então, existe o bom jornalismo e o mau jornalismo. O bom jornalismo, geralmente, quer mesmo ter uma relevância social, prestar um papel para tornar a sociedade melhor. E ter esse afinco com a ideia da educomunicação, que nasceu para isso: trabalhar com a comunicação, democratizá-la, partir da instancia educativa e melhorar a sociedade.


De um dia para o outro não há revolução. É uma revolução de longo prazo e é um processo longitudinal. Por isso acreditamos que esse trabalho não pode parar e queremos que uma hora as pessoas consigam ter, no geral, uma visão crítica social.


- Quais pesquisas estão sendo realizadas na área de educomunicação na USP?

Anteriormente, tínhamos um núcleo de extensão que fazia projetos com o poder público e com quem mais se vinculasse. A partir de 2011, passamos a ter uma graduação em educomunicação, que passou a se beneficiar de todo o repertório e de todos os projetos que fizemos e continuamos fazendo.


Ao mesmo tempo, temos uma linha dentro da área chamada “Interfaces Sociais da Comunicação”, do nosso programa de Pós-graduação em Ciência da Comunicação, em que doutorei com orientação do professor Ismar Soares.


Nessa área temos uma linha de comunicação e educação, na qual acontecem os vínculos com os projetos, tanto de extensão, quanto da graduação. Buscamos casos dentro e fora da USP para descobrirmos novos conceitos, novas formas de promover a comunicação.


Isso se refletiu nas ultimas duas décadas com, pelo menos, três centenas de trabalhos, incluindo TCCs, mestrados e doutorados, que se apoiam e legitimam os conceitos de educomunicação.

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